terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A Princesa Isabel e o Pai da Aviação

Luís Augusto Franco


Comemoramos recentemente o centenário do vôo pioneiro de Santos Dumont no seu 14 Bis, ocorrido em 23 de outubro de 1906.

Naquele dia, no campo de Bagattelle, pela primeira vez um artefato mais pesado que o ar, partindo da imobilidade, por seus próprios meios ganhava velocidade, se alçava ao ar percorrendo sob controle uma apreciável distância e voltava ao solo igualmente sob controle. Tudo na presença de curiosa e entusiasmada multidão, jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e uma comissão oficial convocada para registrar o fato. Foi o primeiro vôo homologado da História.

Conquista da humanidade, glória para o Brasil.

Cinco anos antes Santos Dumont já ganhara celebridade na Cidade Luz ao contornar com seu dirigível no. 5 a Torre Eiffel, ganhando assim o prêmio Deutsch, oferecido a quem primeiro realizasse a proeza.

E logo depois, em 1907, seu gracioso Demoiselle, verdadeira jóia mecânica, se tornaria o primeiro avião do mundo a ser produzido em série.

Alberto Santos Dumont realizou assim o ciclo completo da navegação aérea, do mais leve ao mais pesado que o ar. Foi ele verdadeiramente, como com justa ufania se ensina nas escolas brasileiras, o Pai da Aviação.

Nesse neto de franceses e bisneto de portugueses, dotado daquela determinação que distingue dos meros sonhadores os grandes realizadores, reluziram qualidades típicas do brasileiro: o espírito universal, a largueza de horizontes e o desprendimento em relação ao bem realizado.

Qualidades que é agradável recordar nesta época de crescente estreitamento e endurecimento dos espíritos.

A Família Imperial não esteve alheia ao feito do grande compatriota.

Discernindo nas qualidades de alma e nos variegados dotes do brasileiro uma riqueza maior ainda do que as belezas e os recursos naturais de nosso imenso território, nossos monarcas timbravam em prestigiar aqueles a quem a Providência tivesse favorecido marcadamente em algum campo. Assim, Pedro Américo, Carlos Gomes, os irmãos Rebouças, Osvaldo Cruz, entre outros, receberam o estímulo imperial, e, quando necessário, também o indispensável auxílio material.

A Princesa Isabel continuou no exílio essa bela tradição. Desfrutando, por sua condição, de privilegiada posição na sociedade de Paris, acolhia com afeto os brasileiros ali acorridos, tomando mesmo a iniciativa de convidar aqueles de cuja presença na capital francesa tivesse notícia.

Santos Dumont não teve necessidades materiais; pelo contrário, um dilatado patrimônio familiar possibilitou-lhe desenvolver suas múltiplas experiências. Mas as carências de alma podem ser maiores que as materiais. Querendo suprir ao jovem brasileiro o afeto materno ausente naquelas circunstâncias, a Princesa Isabel costumava enviar-lhe ao Campo de Bagattelle saborosos farnéis para que não tivesse que se deslocar à hora do almoço, acompanhados de afetuosos bilhetes de estímulo. E quis acrescentar a isso uma medalha de São Bento – protetor para toda sorte de perigos – pedindo que a levasse sempre.

Santos Dumont portou essa medalha até o fim da vida, dando testemunho de quanto era sensível ao apoio da Princesa.

Por sua vez, o Príncipe Dom Luiz, filho da Princesa Isabel, afeito desde jovem aos desafios e à aventura, esteve entre os primeiros companheiros de vôo deste grande inventor.

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