terça-feira, 10 de março de 2009

Editoral de Herdeiros do Porvir

Editoral
de Herdeiros do Porvir


No.
1 – setembro de 1995





Para bem compreender o futuro que nos aguarda, às portas do 3o.
Milênio da Era Cristã, nada melhor do que lançar
um olhar retrospectivo aos 200 anos que, em números redondos,
nos separam da Revolução Francesa de 1789.


Certamente não somos, nem poderíamos ser, daqueles que ao verem
evovado o regicídio de Luís XVI e de Maria Antonieta,
manifestam um sentimento selvagem de alívio, como se tal
acontecimento tivesse sido um ato de justiça histórica.
Não somos igualmente daqueles saudosistas que, segundo a
espirituosa expressão de um norte-americano, ainda perdem o
fôlego ao considerarem o trágico fim desse rei tão
condescendente e dessa rainha tão encantadora. Somos, isso
sim, daqueles que têm profunda consciência de que certos
problemas do passado são problemas continuamente vivos e que,
ainda hoje, a Revolução Francesa tem grande parte na
psicologia e no acontecer político, não só dos
próprios franceses, mas de todos os povos, ainda quando esse
acontecer político não tenha sido acompanhado pelos
rios de sangue de que nos fala a história de então.


O martírio dos reis cristianíssimos marca, de um ponto de
vista histórico, o começo de um movimento universal de
demolição que, como um tufão, vem abalando as
leis, as instituições e os costumes do glorioso
Ocidente cristão.


A Revolução que se desencadeava a partir da França,
então a capital cultural do mundo, procurou eliminar o ponto
ordenativo da ordem social e, como ele, as concepções
religiosa e política correlatas.


Sem ir mais longe, foi esse mesmo espírito que animou o movimento
que, no Brasil, derrubou, um século mais tarde, o trono dos
Braganças.






*
* *






Não se atenta contra a cabeça e princípio da ordem social
sem que as consequências as sofra todo o corpo. O que os
útimos 200 anos deixaram patante pe precisamente esta verdade:
A Revolução não parou não se esgotou nos
paroxismos do Terror. Ela foi-se desdobrando de modo a irradiar-se
por todo o corpo social.


Em seus aspectos essenciais, a histpória que começou a ser
escrita na França, mas cujas consequências são de
alcance universal, identifica-se com o surgimento, apogeu e ocaso de
um imenso e universal movimento de idéias, estilos de vida,
sistemas artísticos, instituições políticas,
sociais e econômicas. Um movimento ora violento e ostensivo,
ora pacífico e camuflado, mas sempre destrutivo.


Essses acontecimentos históricos, da França de 1789, marcam,
pois, o começo de uma Revolução no mais amplo
sentido do termo, uma Revolução total e de grande
alcance que já no início, como bem o expressou um de
seus cabecilhas, Rabaud de St. Etienne, visava todas as manifestações
do homem. É preciso, dizia, “mudar as idéias,
mudar as leis, mudar os costumes, mudar os nomes, mudar as coisas,
mudas as palavras, destruir tudo”.






*
* *






Entretanto, é necessário ter em consideração que os
problemas suscitados pela Revolução Francesa não
abarcam em si todo o movimentar da Revolução hodierna.
Essa Revolução se desenvolveu e metamoforseou, e
propõe, hoje, de modo explícito, uma modificação
de tudo.


Despudoradamente o relevou Herbert Marcuse, filósofo da rebelião de Maio
de 68 e expoente da chamada neoRevolução: “Devemos
alcançar as raízes da sociedade nos próprios
indivíduos. Hoje a mudança qualitativa, a liberaççao,
implica mudanças orgânicas de instinto e biológicas,
ao mesmo tempo que mudanças políticas e sociais.
Pode-se indubitavelmente falar de uma revolução
cultural, já que o protesto está voltado contra todo o
Estabelecimento cultural, incluindo a moral da sociedade existente.
Há uma coisa que podemos afirmar com segurança:
acabaram-se a idéia tradicional de revolução e a
estratégia tradicional de revolução. Estas
idéias são antiquadas. O que devemos empreender é
uma espécie de difusa e dispersa desintegração
do sistema” (*).


Trata-se, portanto, da introdução silenciosa e subreptícia
de germes de demolição na própria raíz de
cada uma das manifestações da atividade humana, de modo
a que nada do que é humano lhe escape. É, pois, uma
Revolução Cultural.


“A expressão revolução cultural – segundo
Pierre Fougeyrollas, outro expoente desta neo-Revolução
– significa verdadeiramente uma revolução das
maneiras de sentir, de atuar e de pensar, uma revolução
de maneiras de viver (coletivamete e individualmente), em suma uma
revolução da Civilização” (**).


Uma Revolução, portanto, que se diz Cultural para indicar a
amplitude e a periculosidade de seu poder demolidor.


Cultura é sinônimo de aperfeiçoamento. Cultivar, seja o
espírito seja a terra, é aperfeiçoar, tornar
frutífero, belo e harmonioso.


A Revolução Cultural, pelo contrário, visa tirar
dos eixos as coisas, tornando-as estéreis, desproporcionadas,
imperfeitas, dissonantes. Numa palavra, voltar as coisas contra seu
fim natural.






*
* *






Para que o ideal monárquico continue integralmente aquilo que
sempre foi, mas, por outro lado, não se fossilize na
imobilidade e em polêmicas, por vezes, um tanto peremptas e até
estéreis, é necessário compreender a contínua
metamorfose desta Revolução universal.


É evidente que as novas fórmulas revolucionárias, que
encantariam os regicidas de 1789, mas que eles não ousariam
explicitar – ou talvez não souberam explicitar –
apontam para a meta visada por todos eles. Ou seja, oa anarquização
de tudo, a subversão total, o caos absoluto.


O objetivo de tal Revolução é o nihilismo, reduzir
a nada e confundir no caos mais completo tudo aquilo que a
civilização e a cultura cristãs – frutos
preciosos do sangue de nosso Divino Redentor – levaram a seu
esplendor.


Esse fim, poucos o expressaram com tanta clareza quanto Marx, o qual num
“arrobo místico”, possuído pelo espírito
de destruição, exclamou: “Ao mundo que se levante
entre mim e o abismo o farei pedaços com minhas maldições
perduráveis, ainda que arrate o mundo à ruína.
Lançarei os braços ao redor de sua áspera
realidade: abraçado a im, o mundo perecerá caladamente,
e logo se afundará no nada absoluto” (***).


É a tal fim anarquizante que vai chegando paulatinamente a realidade
contemporânea. Os atentados de Osaka, Oklahoma ou Medellín,
tal como a escalada do terrorismo integrista muçulmano a nível
mundial, não são senão uma mostra disto. Por
outro lado, a insegurança e a crescente situação
indefesa da sociedade perante a expansão da indústria
do roubo, do sequestro e do tráfico em grandes cidades como o
Rio ou São Paulo, constituem outros sintomas de uma sociedade
em decomposição e que se dissolve no caos.


Para não falar do alastramento de aberrações morais
como o homossexualismo e a generalização do aborto,
essa violenta e brutal transformação do, por natureza,
fértil e protetor seio materno em estéril câmara
de tortura e de morte de inocentes, aos quais se nega a mais
elementar acolhida. Aberrações a par das quais não
é de estranhar que brotem outras como a do parricídio e
da autanásia, em que os filhos não desejados têem
como contrapartida os pais e os velhos não desejados.






*
* *






Hoje em tida, pois, a Revolução Cultural põe em jogo,
não só o sim ou não a respeito das formas de
governo, Monarquia ou República, mas o sim ou não a
respeito de tudo: do Estado institucional ou da pulverização
anárquica do corpo social; da instituição
tradicional da família ou das formas aberrantes de sociedades
ditas “conjugais” entre pessoas do mesmo sexo; da moral
ou das formas mais indigestas e convulsivas da imoralidade....
digamos tudo em uma palavra só: da crença absoluta em
um Deus pessoal ou o do relativismo e do ateísmo completos.


Para nós, é de capital importância ter noção
de que os que vêem, no conjunto de problemas levantados pela
Revolução Francesa de 1789 as únicas facetas da
Revolução hodierna. Estão fora do tempo. Como
igualmente fora do tempo estão os que se arrepiam de pânico
quando consideram que, hoje em dia, até mesmo entre os jovens,
há admiração por instituições como
a nobreza ou a realeza, e se tem saudades de figuras, como por
exemplo, a de D. Pedro II.


É preciso compreender que, atualmente, se detectam na opinião
pública dois movimentos profundos e que caminham em sentidos
diametralmente opostos. De um lado, o daqueles que tendem a chegar
aos paroxismos últimos desta Revolução Cultural
acima descrita. De outro, cada vez mais numeroso e mais pujante, o
daqueles que dão sinais inequívocos de se estarem
libertando da escravidão às utopias e mitos
igualitários, ao mesmo tempo que começam a voltar-se
admirativamente para o glorioso passado cristão, buscando os
valores de ordem natural e sobrenatural que o inspiraravam e lhe
conferiram grandeza inigualável.


Portanto, acima da crise, do caos e da confusão generalizada, vemos o
ideal de Civilização Cristã não como um
valor ultrapassado, mas com oum farol que nos indica um porvir
glorioso do qual somos chamados a ser os herdeiros.


Como Herdeiros do Porvir, para contrarrestar essa imensa avalanche
da Revolução Cultural, devemos ir semeando por todas as
partes os perenes e sempre novos ideais da Civilização
Cristã que, como germes de uma Contra-Revolução
Cultural, reorientem os espíritos e os corações,
para essse movimento ascencional rumo à perfeição,
em todos os âmbitos da vida.


É com essa meta que iniciamos esta publicação, qual desde
já colocamos aos pés da excelsa Padroeira e Rainha do
Brasil, Nossa Senhora Aparecida, uma vez que temos bem vincada em
nossas almas a certeza de que nada de grande e de sólido se
constrói sem a indispensável ajuda da Providência.


(*) La sociedade carnívora, ed. Galerna, Buenos Aires, 1969, 2a. ed
(**) Marx, Freud et la révolution totale, Anthropos, Paris, 1972.}
(***) apud D. Cardozo, in “Boletín de Ciencias Politicas y
Sociales”, Mendonza, Argentina, n. 22, 1978, p. 53.


www.monarquia.org.br
www.herdeirosdoporvir.blogspot.com

Nenhum comentário: